A origem do termo “Black Friday” é alvo de várias teorias. Embora muitos acreditem que seja uma tradição moderna, as suas raízes remontam já ao século XIX e não têm qualquer relação direta com compras.
Originalmente, o termo estava associado a crises financeiras e teve origem nos Estados Unidos da América, em 1869, quando a queda do preço do ouro resultou numa crise no mercado financeiro, após a guerra da sucessão. Dois especuladores, Jay Gould e James Fisk, compraram a dívida pública para vendê-la com lucro, mas isso resultou num crash da bolsa de Wall Street a 24 de setembro de 1869, ficando conhecido como “Sexta-feira negra”.
Desta forma, a ligação ao comércio só surgiu quase 100 anos depois, nos anos 1960, quando a polícia de Filadélfia usou o termo para descrever a sexta-feira após o Dia de Ação de Graças. Nesse dia, a cidade enchia-se de multidões para fazer compras de Natal, causando trânsito, acidentes e o colapso das lojas que não estavam preparadas para o fluxo de consumidores.
Por outro lado, o termo também foi associado, pela positiva, ao dia em que os comerciantes, pelo seu volume de vendas, passavam o seu lucro do "vermelho" para o "preto", saindo do prejuízo para o lucro. E, por isso, nas décadas seguintes, as lojas começaram a promover descontos no dia seguinte ao Dia de Ação de Graças, popularizando a “Black Friday”. Desde então, este tornou-se um evento anual nos EUA, expandindo-se globalmente nos anos 2000, incluindo Portugal, onde se tornou aguardada tanto pelos comerciantes quanto pelos consumidores.
A Black Friday acontece sempre no dia seguinte ao feriado norte-americano do Dia de Ação de Graças, tradicionalmente celebrado na última quinta-feira do mês de novembro, marcando assim o início da temporada de compras de Natal. Em Portugal, a Black Friday é realizada na última sexta-feira do mesmo mês, seguindo essa tradição.
Para muitas empresas, a Black Friday é o dia mais lucrativo do ano. Não só as vendas aumentam significativamente, como também a visibilidade da marca, o tráfego nos websites e lojas físicas. De acordo com o estudo anual da blackfriday.pt, realizado em 2023, pela GfK, estimou-se que o volume de negócio de e-commerce faturado durante a semana da Black Friday, em Portugal, seria entre os 120 e os 130 milhões de euros.
Nos últimos anos, a Black Friday expandiu-se consideravelmente através do e-commerce. Se antes era conhecida por ser um dia repleto de grandes descontos e filas intermináveis nos centros comerciais, agora, esse conceito tem vindo a ser transformado e alargado gradualmente, com as promoções a começarem a ser cada vez mais cedo. O prolongamento dos descontos para eventos como a "Cyber Monday" e o "Black November" - que oferece preços mais baixos ao longo de todo o mês de novembro - modificaram os hábitos dos consumidores. Além disso, houve um aumento significativo das compras online, uma vez que com a rápida evolução do mercado digital, a ideia original da Black Friday - caracterizada por multidões reunidas em frente às lojas por descontos de apenas 24 horas - transformou-se, nos últimos anos, numa experiência cada vez mais digital. Segundo o mesmo estudo, 25% dos consumidores portugueses preferem comprar online e 16% a optarem pelas lojas físicas.
Embora seja menos conhecida do que a Black Friday, a Cyber Monday tem vindo a destacar-se nos últimos anos. Com o crescente gosto pelas compras online, foi criado o termo Cyber Monday, que é referente à segunda-feira após a Black Friday e é focada em promoções online e, especialmente, popular entre os consumidores que preferem evitar as multidões nas lojas físicas.
Este ano, a Cyber Monday 2024 será no dia 2 de dezembro de 2024, em Portugal, assim como no resto do mundo.
Por detrás das promoções tentadoras da Black Friday, existe uma cuidadosa estratégia de marketing, no qual as empresas investem em publicidade agressiva, storytelling emocional e técnicas de persuasão para atrair e envolver os seus consumidores.
Contrariando a crença popular de que as promoções da Black Friday são improvisadas à última da hora, muitas empresas começam a planear as suas estratégias com meses de antecedência. Isso inclui negociações com fornecedores, criação de campanhas publicitárias e otimização de stock. Uma das suas táticas mais eficazes é a oferta de descontos relâmpago, que criam uma sensação de urgência e incentivam os consumidores a agirem rapidamente. Essas promoções costumam esgotar em questão de minutos, gerando uma excitação de compras online e offline.
Embora a Black Friday seja sinónimo de consumo desenfreado, também levanta preocupações ambientais. O aumento do volume de resíduos, a pegada de carbono gerada pelo transporte de mercadorias e o descarte de produtos não vendidos são questões que merecem reflexão por parte das empresas e dos consumidores.
Aquele que é considerado o maior dia de compras do mundo e que originalmente se limitaria a apenas um dia, tem sido gradualmente transformado por empresas que estendem as suas promoções ao longo de um período maior, permitindo que milhões de consumidores aproveitem para realizar as suas compras.
Apesar de ter tido origem como uma tradição americana, o conceito da Black Friday tem se disseminado pelo mundo e já se tornou um fenómeno em Portugal. De acordo com o jornal BBC, só na primeira década de 2000 é que a Black Friday ganhou a força e popularidade que conhecemos nos dias de hoje, até essa data, o sábado antes do Natal era conhecido como o dia em que se registava o maior número de compras nos Estados Unidos da América.
Neste sentido, outros países decidiram também adotar a Black Friday e aproveitar o frenesim pelas melhores promoções, fazendo com que esta data, tão associada ao Thanksgiving Day, passasse a ser vista como um evento internacional.
A Black Friday é muito mais do que uma simples oportunidade de fazer compras, é um fenómeno da sociedade que revela os complexos mecanismos do comércio moderno.